O refluxo gastroesofágico e a azia são sintomas digestivos comuns que, em geral, estão associados a condições como a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e alterações na motilidade do trato digestivo. No entanto, algumas pacientes com endometriose relatam um aumento desses sintomas, o que levanta a questão: existe uma relação entre endometriose e refluxo? Embora ainda não totalmente esclarecido, estudos sugerem que a endometriose pode impactar o sistema digestivo de diferentes maneiras, incluindo o funcionamento do esôfago e do estômago.
Um dos mecanismos propostos para essa relação envolve a inflamação sistêmica causada pela endometriose. O estado inflamatório crônico pode afetar a motilidade gastrointestinal, retardando o esvaziamento gástrico e favorecendo episódios de refluxo. Além disso, a presença de aderências abdominais, comuns em pacientes com endometriose profunda, pode comprometer a mobilidade do estômago e do intestino, aumentando a pressão intra-abdominal e contribuindo para o retorno do conteúdo ácido para o esôfago.
Outro fator a ser considerado é a influência hormonal. O estrogênio, um dos principais hormônios envolvidos na endometriose, também afeta a função do esfíncter esofágico inferior, a válvula que impede o refluxo do ácido gástrico para o esôfago. Alterações nos níveis hormonais ao longo do ciclo menstrual podem levar a uma maior incidência de episódios de azia e refluxo em determinadas fases do mês. Esse aspecto pode explicar por que algumas pacientes relatam piora dos sintomas digestivos no período pré-menstrual.
O diagnóstico da origem do refluxo em pacientes com endometriose requer uma avaliação cuidadosa e multidisciplinar. Exames como endoscopia digestiva alta, pHmetria esofágica e manometria esofágica podem ser necessários para avaliar a função esofágica e a presença de lesões. Além disso, a ressonância magnética pélvica pode auxiliar na identificação de focos de endometriose que possam estar contribuindo para os sintomas gastrointestinais.
O tratamento deve ser individualizado e pode incluir mudanças no estilo de vida, como ajustes na dieta, elevação da cabeceira da cama e perda de peso, além do uso de medicamentos que reduzem a produção de ácido gástrico. Em casos onde a endometriose está claramente relacionada aos sintomas de refluxo, o tratamento hormonal ou cirúrgico da endometriose pode ser necessário para aliviar os sintomas gastrointestinais.
A colaboração entre gastroenterologistas e ginecologistas é essencial para o manejo adequado dessas pacientes. Uma abordagem integrada permite não apenas o alívio dos sintomas, mas também o tratamento da causa subjacente, melhorando significativamente a qualidade de vida das mulheres afetadas por essas condições.
Referências:
Shi, Z., Li, Z., Wang, K., & Yang, F. (2024). The causal role of gastroesophageal reflux disease in endometriosis: a bidirectional Mendelian randomization study. Frontiers in Medicine, 11. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmed.2024.1440157/full
Endometriosis.net. (n.d.). The Connection Between Endometriosis and GERD. https://endometriosis.net/clinical/gerd